Stratocaster - Os 70 anos da guitarra mais famosa da história

O que vem à sua mente quando alguém menciona a palavra "Guitarra"? Para muitas pessoas, guitarristas ou não, a imagem que define a palavra guitarra é de uma Fender Stratocaster, a guitarra mais icônica da história. A mais copiada. A mais vendida. A mais cultuada. Mas o que fez desse modelo um arquétipo tão vultuoso ao longo do tempo? É isso que vamos abordar no artigo de hoje. Sejam bem vindos ao aniversário de 70 anos da Fender STRATOCASTER!

O começo

No ano de 1952, a Fender já havia lançado seus 2 primeiros instrumentos de sucesso na indústria: A guitarra Telecaster e o Precision Bass. Com o sucesso imediato dos 2 modelos, o primeiro pensamento de Leo Fender foi trabalhar em evoluções para criar novos produtos e suprimir a ascensão de outros fabricantes.

Com esse objetivo em mente, o designer Freddie Tavares, parceiro de Leo Fender na concepção da Strato, desenhou um novo modelo de corpo claramente inspirado no Precision Bass, que foi nomeado pelo gerente de vendas Don Randall como "Stratocaster". O prefixo "Strato" (de estratosfera) era bastante usado na época para remeter à modernidade, pois era muito usado em equipamentos de guerra. Leo Fender e Freddie Tavares se debruçariam nos próximos 2 anos sobre o projeto até seu lançamento.

Um marco de inovação e design

A Stratocaster também tinha a responsabilidade de bater de frente com modelos high-end de outras marcas, especialmente as Gibson Les Paul. Por isso, precisava ser uma inovação em funcionalidade e design. Uma das novidades foi o circuito com 3 captadores, que tornava a Stratocaster mais versátil que a Telecaster, embora a princípio só fosse possível utilizar cada um individualmente. Com o tempo, os guitarristas notaram que se posicionassem a chave seletora entre uma posição e outra, seria possível combinar 2 captadores, o que deu origem à chave de 5 posições.

A altura dos polos nos captadores da Stratocaster também foi uma inovação importante. Com a regulagem individual da altura dos polos, o volume das cordas passou a ser mais uniforme com a compensação.

Em relação ao design, a partir de uma sugestão do guitarrista Rex Gallion, a Fender buscou remover as bordas "quadradas" do projeto pois, segundo suas palavras, "as quinas da Telecaster ficavam batendo nas costelas". Daí então a inovação ergonômica da Stratocaster que a tornou muito mais adaptável ao corpo e fácil de tocar, por suas bordas arredondadas e escavadas.

Foi também com o lançamento da Stratocaster que surgiu uma tradição lendária da Fender: A pintura Sunburst. Isso porque esse tipo de pintura trazia um visual mais elegante e "high-end" ao instrumento.

A inovação mais importante da Stratocaster: a ponte

A ponte da Stratocaster foi a grande inovação do projeto. Após o feedback de alguns guitarristas da época sobre a Telecaster, Leo Fender concordou com a idéia de projetar uma ponte que fizesse o papel de um trêmolo junto a seu novo parceiro de negócios, Paul Bigsby. O projeto dessa ponte gerava alguns desafios, pois não poderia comprometer a estabilidade, afinação e sustain do instrumento.

A primeira tentativa não deu muito certo. O primeiro sistema desenvolvido apresentava saddles sobre os quais as cordas se moviam. O resultado no chão de fábrica pareceu bom, mas seu uso nos palcos era um desastre. O som e a afinação acabavam sendo comprometidas e esse projeto foi para a lata do lixo.

Foi quando então, em 1953, a Fender desenvolveu a ponte com sistema de trêmolo que causaria a revolução na indústria. Nesse sistema, a ponte toda se moveria juntamente às cordas, ancorada na parte de trás da guitarra por uma barra de metal para garantir sustain. A fixação de molas auxiliavam no movimento da alavanca e traziam estabilidade. O sistema com 6 saddles individuais também permitia uma regulagem individual das cordas, otimizando drasticamente a entonação.

E a ponte que a princípio tinha a finalidade de criar um leve efeito no som, ficou mais versátil e melhor do que se esperava. Ela poderia transitar até 3 tons e meio na afinação, o que permitiu que os músicos da época criassem coisas que Leo jamais havia imaginado.

O boom do Rock n' Roll e a consagração da Stratocaster

Nos primeiros anos após o lançamento da Stratocaster, o resultado foi modesto. Muita gente não compreendeu muito bem o projeto e poucos músicos deram atenção a princípio. Para alguns, a Stratocaster era até tratada com um tom pejorativo.

Mas isso mudaria ao longo dos anos 50 e a ascensão do Rock N' Roll. Na época, os instrumentos principais mesmo nesse estilo eram os Saxofones e Pianos. Levou um tempo para que a guitarra elétrica ascendesse e fosse substituindo esses instrumentos. Em dezembro de 1957, após 3 anos de refinamento do projeto, poucos guitarristas haviam tido contato com a Stratocaster ainda, mas isso estava prestes a mudar. Mais precisamente quando a banda The Crickets apareceu no programa The Ed Sullivan Show com seu jovem vocalista e guitarrista Charles Hardin "Buddy" Holly tocando uma Stratocaster.

Dali em diante, a Stratocaster passou a figurar para sempre nos palcos e em sessões de gravação e virou uma lenda na mão de inúmeros artistas como os Beach Boys nos anos 60, Bob Dylan, Buddy Guy, Ritchie Blackmore, George Harrison, Jimi Hendrix, Eric Clapton, Mark Knopfler, David Gilmour, Jeff Beck, Rory Gallagher, Stevie Ray Vaughan, Yngwie Malmsteen, Nile Rogers, John Frusciante, The Edge, John Mayer entre outros.

Qual seu headstock preferido?

A gente sabe que essa é uma eleição apertada. A Stratocaster possui dois formatos conhecidos: O original "Small Headstock" e o "Big Headstock" famoso nos anos 70. O segundo foi usado a partir de 1966 quando a Fender havia sido vendida para o grupo CBS. E o motivo é simples: Como a CBS adquiriu o grupo Fender com a intenção de rentabilizar a marca, além da reestilização do logo, o headstock foi aumentado para que o logo da Fender também ficasse maior e mais visível nos programas de TV.

Durante mais de uma década, o Big Headstock da Stratocaster tornou-se um padrão presente em outros modelos também como a Jazzmaster, Mustang, Jaguar e a Telecaster Deluxe.

Por isso, muita gente estranhou quando, nos anos 80 após a saída da CBS, a Fender tentou reativar o "Small Headstock" do projeto original. Mas como o "Big Headstock" era o único que várias pessoas conheciam por estar a tanto tempo no mercado, muitos estranharam. Foi apenas em 1987, com o lançamento da "The American Stratocaster" que o "Small Headstock" voltou a ser padrão com o status de guitarras reissue. Desde então, ambos convivem em harmonia até hoje e cada modelo possui sua própria base de fãs.